Pessoal :
Recebi uma encomenda de um parente querendo que eu ou o
ensinasse algo sobre investimentos ou indicassem onde ele deveria colocar o
dinheiro.
Vejam que roubada!
Falei com ele que faria um resumo, que em hipótese alguma
visaria esgotar o assunto, sobre algumas opções de investimento e que isto sem os
estudos do mesmo, estabelecimento de conceitos próprios, etc de nada valeria.
Assim ousei colocar aqui alguns conceitos à disposição da
blogosfera para discussões e críticas!
Acho que isto evoca a boas discussões, já que não há uma
fórmula mágica.
Aproveito para salientar que em
nenhum momento o que segue é uma recomendação. Reitero que o que aqui está
exposto é uma opinião pessoal, sem nenhum embasamento, sem nenhuma recomendação
e que serve apenas para fomentar discussões!
Assim, seguem os meus conceitos, para vossa análise e
crítica construtiva.
1º Conceito de “Colchão de Segurança” : Deve-se ter em mente
que nossas vidas são imprevisíveis, e algo inesperado ou trágico pode ocorrer e
que exige dinheiro de fácil disponibilidade (ou seja, dinheiro com liquidez).
Assim, recomenda-se que antes de alocar todo o dinheiro nos investimentos você
defina um colchão de segurança, ou seja, uma quantia de dinheiro que possua
imediata liquidez para pronto uso. Os conceitos variam bastante, mas eu adoto
basicamente um valor próximo às despesas que tenho mensalmente multiplicado por
4. Assim este dinheiro pode ficar em poupança ou em um CDB, por exemplo.
2ª coisa a se pensar : qual seu perfil de investidor? Já tem
idade avançada? Pensa em usar o dinheiro nos próximos 2 anos ou ele pode render
(“trabalhar para você”) por um tempo mais longo?
Aliás, o que vem a ser curto ou longo prazo? Não há
conceitos fixos, mas o que eu adoto como conceito é o seguinte :
Dinheiro para uso nos próximos 6 meses : curtíssimo prazo
Dinheiro para uso entre 6 meses e 3 anos : curto prazo
Dinheiro entre 3 anos e 8 anos : médio prazo
Dinheiro que pode ficar investido por mais de 8 anos : longo
prazo
Aqui então já temos alguns pontos interessantes. Se você
pode ou vai precisar do dinheiro no curtíssimo ou no curto prazo escolha
investimentos de renda fixa. A renda variável pode não lhe ser favorável. Além
disso, se for no curtíssimo prazo, coloque em algo que tenha grande liquidez
(ou seja, que seja prontamente mobilizável, passível de ser retirado do banco e
usado com rapidez). Talvez neste quesito a poupança seja o melhor meio, já que
é de altíssima liquidez e sem IR.
Nos casos onde seu dinheiro pode ficar por longo tempo, a
renda variável (desde que com boas escolhas, seguimento adequado e compras em
momentos favoráveis de preço x valor) tende a ser muito mais rentável.
Aqui as
reaplicações dos rendimentos, juros e dividendos fazem o milagre dos juros
compostos multiplicarem seu dinheiro.
Portanto, quanto mais cedo começar, maior a chance de chegar
aos 50 anos com ótima renda aplicada, permitindo a independência financeira. Se
nós não tivemos uma educação financeira nesse sentido, e começamos um pouco
mais tarde, cabe então a nós pensar em fazer isso aos nossos filhos, ou seja,
dar-lhes educação financeira e iniciar suas carteiras de ações, FIIs e Renda
Fixa ainda na infância ou adolescência.
O que é renda fixa e renda variável?
Ativos de renda variável são aqueles cuja remuneração ou
retorno de capital não pode ser dimensionado no momento da aplicação, podendo
variar positivamente ou negativamente, de acordo com as expectativas do
mercado.
São exemplos :
- Ações
- Fundos de Investimento Imobiliário – FIIs
Renda Fixa é um termo que se
refere a todo tipo de investimento que possui uma
remuneração paga em intervalos pré-definidos e em condições pré-definidas.
A palavra renda fixa não significa que a
rentabilidade não varie. Estas oscilações ocorrem em função das variações da
cotação do título no mercado financeiro e do indexador, no
caso de títulos com rentabilidade pós-fixadas.
São exemplos de RF :
- Caderneta de Poupança
- Certificado de Depósito Bancário – CDB
- Letra de Crédito Imobiliário – LCI
- Letra de Crédito do Agronegócio – LCA
- Títulos Públicos
- Debêntures
- Fundos Bancários DI
Começando pela renda variável :
1) Ações.
Para fácil entendimento, em que
se baseia a aplicação em ações? Bem, quando você compra uma ação você se torna
sócio da empresa. Mas isso nos faz ganhar dinheiro? Sim, veja bem como isso é
possível. Caso as aplicações de renda fixa fossem superiores aos ganhos
corporativos não haveria sentido alguém abrir uma empresa, certo? Pois então,
ao abrir um pequeno negócio, você imagina que os ganhos serão maiores que os
ganhos que teria na renda fixa. Isso é a base, e é óbvio. MAS lembre-se,
quantos pequenos aventureiros abrem negócios e fecham em menos de 1 ano.
Muitíssimos! Da mesma forma, antes de aplicar seu dinheiro na empresa e se
tornar sócio é preciso estuda-la e ver se a mesma traz uma relação risco x
benefício favorável.
O investimento em ações pode ter duas modalidades bem distintas entre
si :
a
a) Buy and Hold (comprar e manter) – seria aquela
estratégia recomendada para a totalidade das pessoas que inicia nas ações.
Baseia-se em perder (ou melhor “investir”) muito tempo antes estudando as
empresas nas quais se pensa investir. Isto é fundamental, vá sem pressa alguma,
pois esta etapa se não for bem cumprida é que diferenciará os perdedores dos
ganhadores. Aqui a idéia é sempre o longo
prazo. O que se espera nessa estratégia é ganhar dinheiro com os dividendos
pagos de tempos em tempos + valorização da cota no longo prazo (nas empresas
boas).
Para esta tática são usadas as chamadas
análises fundamentalistas, que valem a pena ser conhecidas, estudadas. Uma boa
sugestão é ver este conceito com os vídeos no youtube divulgados pelo Bastter.
Embora eu discorde com alguns argumentos do Bastter, reconheço que seus vídeos
trazem bons conceitos de análise fundamentalista a quem está iniciando.
b) Trade – estratégia que não deve ser adotada em hipótese alguma por quem inicia na bolsa de
valores, e que é às vezes encarada de forma errônea como simples :
comprar na baixa, vender na alta e aproveitar o lucro obtido. A aparente
simplicidade “engole” a maioria das pessoas que passa a comprar na alta e
vender na baixa. Um conselho : a primeira coisa a se pensar antes de investir é
“não sei nada, se pensei nisso certamente os verdadeiros tubarões da bolsa já
pensaram antes, e se fosse assim tão simples a maioria ganharia, mas sei que a
maioria na verdade perde na bolsa. E perdem exatamente pelo pensamento
equivocado e tão proclamado na mídia : comprar barato, esperar valorizar e
então vender fazendo o lucro”
O investimento é feito através de uma conta
corretora com uso de uma plataforma amiga para a negociação, o tão famoso
Home-Broker (HB). Nesta plataforma você encontrará as ações que são negociadas
na bolsa de valores sob códigos, por exemplo, o Banco do Brasil é negociado sob
código BBAS3, o Itaú-Unibanco sob o código ITUB4, a CCR sob o código CCRO3, a
Vale sob os códigos VALE3 e VALE5.
2) Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) :
Estas aplicações são também aplicações de
renda variável que guardam algumas semelhanças com o aluguel de um imóvel
próprio, porém com certas vantagens. Imagine que você resolve aplicar na compra
de um imóvel, que é um segundo imóvel e não sua casa própria. Ou seja, você
resolveu aplicar o dinheiro em um imóvel, buscando/esperando que o mesmo se
valorize com o tempo e obtendo ganhos atuais com o aluguel. Pois bem, nesta
aplicação você precisaria :
a)
De um grande capital a ser investido na
aquisição de um imóvel;
b)
Conseguir barganhar o preço a fim de obter um
imóvel interessante a um preço, no mínimo justo;
c)
Correr atrás de conseguir alugar o imóvel;
d)
Arcar com os custos de condomínio durante o
período de vacância (isto é enquanto não conseguir alugar o imóvel);
e)
Ter sorte para não ter problemas de
inadimplência;
f)
Pagar imposto de renda sobre o lucro obtido com
o aluguel.
Como se não bastasse, mesmo
quando se loca bem o imóvel, raramente se obtem o Yield mensal superior a 0,5%
neste tipo de investimento.
EM CONTRAPARTIDA IMAGINE :
a)
Precisar apenas pouco dinheiro para investir em
imóvel, e podendo-se aplicar paulatinamente, de pouco a pouco, por mês;
b)
Aproveitar os períodos de baixa nos
investimentos de renda variável para conseguir interessantes aquisições de
imóveis;
c)
Conhecer o imóvel e quem o aluga, com qual
contrato e por quanto tempo ANTES de você adquirir o imóvel;
d)
Ter um investimento que na verdade é um conjunto
de imóveis e não apenas um único imóvel, implicando que caso haja uma vacância,
esta estará diluída entre muitos outros alugueis pagos e trará pouco impacto à
sua renda mensal;
e)
Poder conhecer a empresa que está locando o
imóvel, eventuais processos existentes de revisionais, bem como o histórico da
mesma ANTES de comprar o imóvel, o que poderia minimizar os riscos de
inadimplência;
f)
Não pagar imposto de renda pelo aluguel
recebido.
Parece interessante, não é
verdade? E, em momento de baixa como este agora, é fácil conseguir um
investimento com essas características com Yield mensal de pelo menos 0,75%.
Conceito importante : diversificação!
Com tantas opções como começar a investir? Vou dar alguns
exemplos do que seria viável, embora não seja uma recomendação e muito menos
uma regra, apenas um exemplo que vejo possível, baseada em uma simples opinião
pessoal de uma pessoa não profissional do mercado financeiro, e que possui inúmeras
outras variáveis não levadas em conta e que portanto pode funcionar para mim,
mas que pode não funcionar para qualquer outra pessoa. Creio que
exemplos abrem a mente e permitem que possamos decidir nossas melhores escolhas
posteriormente.
Exemplo 1 : Jovem, com idade inferior a 20 anos (ou nossos
filhos, ainda crianças)
* colchão de segurança (não se aplica para as crianças,
nossas dependentes) no valor de 4 meses das despesas mensais;
* Restante assim dividido :
*** 60% do dinheiro em boas ações, estudadas com cuidado e
acompanhadas, com reaplicação dos juros, dividendos de forma a ter o benefício
dos juros compostos. A meu ver uma carteira com 8 a 10 ações de boa qualidade é
uma forma de balancear bem os riscos e permitir ainda o acompanhamento das
empresas (de preferencia eu teria pelo menos um banco bom, uma empresa do setor
de infraestrutura e uma elétrica entre essas ações);
*** 20% do dinheiro em FIIs – e aqui procure balancear
também os setores : escritório, logística, shopping, hospital, fundos de papel,
agencias bancárias, universidades, etc. A escolha do FII é uma discussão a
parte, e é muito complexa! Eu mesmo tenho apanhado bastante!!!
*** 20% em RF. Como provavelmente seu colchão de segurança
está em poupança ou CDB, pense em escolher para este ítem um título público que
esteja pagando bem, ou uma LCI que pague elevada taxa do CDI.
Exemplo 2 : Individuo entre 20 e 30 anos:
* colchão de segurança no valor de 4 meses das despesas
mensais;
* Restante assim dividido :
*** 40% do dinheiro em boas ações, estudadas com cuidado e
acompanhadas, com reaplicação dos juros, dividendos. (tendo de preferencia um
banco, uma elétrica e uma empresa de infraestrutura, entre as 8 ou 10 ações
escolhidas);
*** 30% do dinheiro em FIIs ;
*** 30% em RF.
Exemplo 3 : Indivíduo entre 30 e 40 anos :
* colchão de segurança no valor de 4 meses das despesas
mensais;
* Restante assim dividido :
*** 40% do dinheiro em boas ações;
*** 20% do dinheiro em FIIs ;
*** 40% em RF.
Exemplo 4 : Indivíduos acima de 40 anos :
* colchão de segurança no valor de 4 meses das despesas
mensais;
* Restante assim dividido :
*** 30% do dinheiro em ações que paguem dividendos;
*** 30% do dinheiro em FIIs – bom yield mensal dos aluguéis.
*** 40% em RF.
Exemplos de ações a se estudar, para ver se encaixam no seu
perfil :
Bancos : BBAS3 (Banco do Brasil); ITUB4 (Itaú-Unibanco);
BRDC4 (Bradesco).
Elétricas : TBLE3 (Tractebel); TAEE11 (Taesa); CMIG3
(CEMIG).
Infraestrutura : CCRO3 (CCR); ARTR3 (Arteris); ECOR3
(EcoRodovias).
Outras : VALE5, GRND3, CIEL3, EZTC3, AMBEV, SABESP
Bem, é isso pessoal! Comentários, concordando, discordando,
debatendo, etc serão bem vindos!